A dependência tecnológica, em sua essência, é um padrão de comportamento compulsivo e repetitivo em relação ao uso de dispositivos eletrônicos, como smartphones, videogames, computadores e redes sociais. O uso se torna tão intenso que acaba prejudicando significativamente a vida pessoal, social, profissional e acadêmica de um indivíduo.

 

Embora o termo "dependência tecnológica" ainda não seja um diagnóstico formal único, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Associação Americana de Psiquiatria (APA) já reconhecem e pesquisam o tema. A OMS, em sua Classificação Internacional de Doenças (a CID-11), incluiu oficialmente o Transtorno do Jogo Eletrônico (Gaming Disorder), definindo-o como um padrão de comportamento persistente ou recorrente de jogo que é grave o suficiente para resultar em prejuízo significativo nas áreas de funcionamento pessoal, familiar, social, educacional ou profissional. Da mesma forma, a APA, no manual DSM-5, incluiu o Transtorno do Jogo pela Internet (Internet Gaming Disorder - IGD) em uma seção de "Condições para Estudos Adicionais".

 

Essa atenção crescente de importantes órgãos de saúde demonstra que o uso excessivo de tecnologia não é apenas um mau hábito, mas sim uma condição que pode ter consequências sérias para a saúde mental.

 

Como a dependência tecnológica é avaliada?

A avaliação da dependência tecnológica é um processo estruturado que vai além da simples observação do tempo de tela. Ela é feita por meio de um protocolo completo de avaliação, que busca entender o contexto do uso da tecnologia e seu impacto em diferentes aspectos da vida do indivíduo.

 

O protocolo de avaliação, com duração total de aproximadamente 2 horas, é composto por seis etapas:

 * Entrevista inicial: O objetivo é coletar informações detalhadas sobre a vida do indivíduo para entender o contexto do uso da tecnologia.

 * Avaliação da Personalidade: Aplicação de um inventário para identificar traços de personalidade que podem estar relacionados ao comportamento de dependência.

 * Avaliação da Impulsividade: Aplicação de uma escala para medir o nível de impulsividade do indivíduo, um fator importante em comportamentos de dependência.

 * Avaliação de Habilidades Sociais: Aplicação de um inventário para avaliar a capacidade do indivíduo de interagir e se relacionar com outras pessoas, já que a dependência tecnológica muitas vezes está ligada ao isolamento social.

 * Questionário de Diagnóstico de Dependência de Internet: Este é um questionário específico para identificar o padrão de uso problemático da internet, com foco nos critérios que definem a dependência.

 * Teste de Dependência de Internet: Outro instrumento para medir a intensidade da dependência, fornecendo uma pontuação que ajuda a classificar o nível de risco.

 

A combinação desses instrumentos permite uma visão abrangente e completa, que vai além do comportamento em si para entender as características psicológicas e sociais que podem estar por trás do uso problemático da tecnologia.