Terapia Cognitiva Processual como instrumento no tratamento da Dependência Química
A Terapia Cognitiva Processual, também conhecida como “O Processo”, vem sendo utilizada em psicoterapia, trabalhando-se com níveis de cognição, no que se refere aos pensamentos automáticos, crenças subjacentes e nucleares. Tal técnica tem por objetivo reestruturar as crenças disfuncionais (ou nucleares), que, quando ativadas, manifestam-se através de sintomas cognitivos, emocionais e comportamentais. O trabalho de reestruturação de crenças leva o paciente a identificar seus pensamentos disfuncionais, promovendo mudanças comportamentais mais duradouras.
A metodologia da técnica foi inspirada na obra “O Processo”, do escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924), na qual o personagem central da trama, Joseph K., é detido, condenado e executado por um crime que jamais soube por que foi acusado. A aplicação da técnica consiste na simulação de um processo jurídico em que o paciente irá desempenhar os papéis de promotor, advogado de defesa, réu e júri, utilizando-se os princípios da auto-acusação e auto-defesa, presentes em todo o processo jurídico. Para a Terapia Cognitiva Processual, a auto-acusação é compreendida como a crença nuclear do paciente, quando é ativada.
Dessa forma, busca-se através do método que os pacientes tornem-se mais conscientes de suas crenças nucleares a respeito de si mesmos e desenvolvam crenças mais positivas e funcionais. Crenças de incapacidade e de inferioridade, por exemplo, habitualmente encontradas entre dependentes químicos, são trabalhadas de maneira que o próprio paciente perceba que há uma distorção da representação que faz de si e do mundo. Lidar com crenças nucleares corresponde trabalhar com o que há de mais profundo e significativo para ele, mobilizando uma alta carga emocional.
Assim, a Terapia Cognitiva Processual surgiu como forma de se trabalhar com níveis mais profundos de cognição (crenças nucleares) que permeiam e influenciam diretamente nas emoções e comportamentos dos indivíduos. A técnica ajudará o dependente químico a identificar e modificar seus pensamentos disfuncionais, pensamentos que podem levar o indivíduo a uma recaída. Estudos recentes apontam a eficácia da técnica, demonstrada através da redução significativa do crédito que o paciente atribui às crenças nucleares e às emoções correspondentes.
No setting terapêutico, paciente e terapeuta utilizam da mesma linguagem no que diz respeito ao uso de “O Processo”. Para que isso seja possível, o paciente é submetido à Psicoeducação sobre o modelo cognitivo e fica conhecendo todas as distorções cognitivas que comete (“erros de pensamento”), além de ter sua história organizada no Diagrama de Conceituação da TCP. No período de 12 a 16 de outubro de 2011, na cidade de Salvador – BA, as profissionais da Clínica Alamedas participaram do Treinamento em Terapia Cognitiva Processual, ministrado pelo Professor Dr. Irismar Reis de Oliveira, professor Titular do Departamento de Neurociências e Saúde Mental da UFBA e Chefe do Serviço de Psiquiatria da mesma instituição.
A participação dessas profissionais teve por objetivo o aperfeiçoamento da técnica baseada da Terapia Cognitiva Comportamental (TCC). No contexto em que a TCC tem se mostrado como a abordagem mais eficaz no tratamento da Dependência Química, a Terapia Cognitiva Processual surge como mais um importante instrumento de trabalho em Psicoterapia.